Não há Nenhuma Bolha no Imobiliário

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Um dos temas que mais se fala na atualidade é preço das casas. Isto porque os últimos anos foram marcados pela mais expressiva valorização das habitações em Portugal. Embora este fenómeno seja mais sentido nas grandes cidades, como seria de esperar, o que ninguém estava à espera era precisamente que o mesmo se revelasse de forma tão acentuada e rápida nas zonas periféricas das grandes cidades. Como tal, no caso de Lisboa, por exemplo, assistiu-se a uma valorização exponencial em todas as áreas envolventes, com especial destaque para a margem sul do Rio Tejo. O resultado? Muitos dos residentes lisboetas mudaram-se para locais como Almada, Charneca da Caparica, Aroeira, Setúbal e Palmela.

Millenials reunidos numa esplanada

Fotografia por Helena Lopes em Unsplash

No entanto, quem mais é impactado por toda esta conjuntura socioeconómica são a Geração Z e os Millenials. Os sentimentos atuais nutridos pelos indivíduos destas faixas etárias é, entre muitos, o de descontentamento e indignação. É muito comum estas gerações caírem na conceção, ou desejo, de querer igualar (pelo menos) aquilo que os seus pais lhes proporcionaram. No entanto, é importante não esquecer que há 20/25 anos atrás, toda a conjuntura socioeconómica era extremamente diferente: a maioria das profissões não exigia altas qualificações académicas, existia uma enorme oferta para a igual procura no que toca ao mercado de habitação, e mais importante que tudo, a progressão vertical no mercado de trabalho era simplesmente estonteante. Ao passo que hoje em dia, embora hoje também haja mais oportunidades de trabalho numa perspetiva do mercado global, nada é para toda a vida. O que sabemos é que, face a esta conjuntura, o mercado tem mais oportunidades mas também é mais desafiante para estas faixas etárias conseguirem o tipo de vida que ambicionam. Mas através do Modus Operandi da geração anterior, a remuneração é tradicionalmente baixa e o custo de vida não vai parar de subir. Como tal, como avança um artigo do Eco, «os jovens adultos portugueses deixam a casa dos pais, em média, aos 29 anos, o que coloca Portugal acima da média entre os Estados-membros da UE, de 26,2 anos em 2019, apontam dados do Eurostat (...). Em Portugal, mais de 40% dos jovens adultos portugueses, entre os 25 e os 34 anos, ainda continua a viver em casa dos pais. Os preços do mercado imobiliário, as possibilidades de emprego, a incapacidade financeira, o facto de estudarem ou terem (ou não) um parceiro e, ainda, motivos culturais, estão entre as várias razões que justificam esta realidade.»

Leonel Reis

Leonel Reis (economista)

E de mãos dadas a esta conjuntura, está a ideia de que existe uma bolha no imobiliário que “eventualmente”, irá rebentar. Apoiados sobre a mera esperança que esta realidade irá mudar nos próximos tempos, os jovens-adultos acreditam que em algum ponto, os preços atualmente praticados irão ter que, obrigatoriamente, descer. Mas será que haverá, de facto, uma bolha no mercado imobiliário? E se sim, terá os dias contados? Leonel Reis, especialista em imobiliário, expressa a sua opinião sobre o assunto: «A realidade é que não existe uma bolha no imobiliário. Esse conceito, falso, é meramente uma esperança de que em algum ponto o preço das habitações desça, possibilitando a que uma maior fatia da população possa adquirir uma casa. Na verdade, tudo é tão simples e básico como a lei da procura e da oferta, enquanto houver procura e exista oferta para satisfazer as necessidades dessa procura, o mercado irá prosperar - e consequentemente assistiremos a uma valorização natural do mercado imobiliário. Muitas vezes discutimos sobre a possibilidade de existir um “gap” entre esta procura, que no centro de Lisboa é dominada por clientes internacionais, com tendência a verificar-se igualmente fora das grandes cidades, e a oferta de propriedades que sejam acessíveis aos locais. Será que existirá uma conjuntura em que a procura a nível internacional acabe por estagnar, ou até mesmo baixar, e não haja propriedades a um preço acessível para os locais - obrigando os preços a descer? Eu honestamente acredito que não, pelo simples facto que a procura pelo nosso país não para de crescer a nível mundial pelas suas imensas e ímpares qualidades e características que pode proporcionar aos seus habitantes. O arrendamento e aquisição de habitação por estes clientes internacionais cresce diariamente, muito também em virtude da nova realidade profissional que a situação pandémica veio acelerar, relativamente ao trabalho à distância. O comum cidadão nacional não tem noção da valorização que é dada ao nosso país, tendo-se intensificado após a pandemia. Um país que proporcione a segurança, a qualidade, o estilo de vida costeiro com uma meteorologia invejável durante todo o ano, e acima de tudo um povo cuja sua natureza é amável e incomparável face aos outros países europeus, é a receita perfeita para quem queira viver cá. Este crescimento tem sido de tal forma rápido que se torna agora necessário ajustar algumas infraestruturas à nova realidade. Estamos apenas no início de um ciclo, nesta procura, e que se vai continuar a acentuar. Face a esta nova realidade, torna-se clara a necessidade de serem criadas condições por parte do estado para que os nacionais continuem a ter direito a uma habitação digna, mas claro, não numa vertente do investidor privado se substituir ao estado social e às suas obrigações.»